UM OBLATO
UT IN OMNIBUS GLORIFICETUR DEUS
O que significa "oblato"?
Um oblato é alguém - geralmente um leigo - que se sente chamado por Deus a viver uma maior perfeição de vida cristã. Para isso, ele une-se a um mosteiro da Ordem de São Bento e pede ingresso na companhia dos oblatos, o que é dado através de alguns ritos e uma rígida disciplina.
Como tornar-se um oblato?
De um candidato à oblatura beneditina não se pede muito mais do que associar-se a algum mosteiro, frequentá-lo, rezar uma série de orações prescritas (um lugar muito especial é dado à recitação do Ofício Divino), viver uma vida mais escondida, silenciosa e contemplativa e preocupar-se em honrar a Deus em tudo o que se faz.
A que religião pertencem os oblatos?
Um oblato é sempre católico, dado que o monasticismo cristão não é bem-vindo em outras denominações cristãs. Por mais que hoje haja monges anglicanos e luteranos, isso não exprime o caráter dessas igrejas, que nos seus primeiros tempos não mediram esforços em desapropriar tantos mosteiros quanto fossem possíveis. Já no cristianismo oriental os monges não possuem o costume te receberem leigos como integrantes de seus mosteiros.
O que significa "ut in omnibus glorificetur Deus"?
É uma frase em latim - a antiga língua do Império Romano - que significa "para que em tudo Deus seja glorificado". São Bento a coloca na sua Regra e tornou-se uma frase de uso corrente entre os monges, para que sempre se recordem que todos os seus atos devem ter Deus como origem ou finalidade. O mesmo com o oblato, que doa a Deus a sua vida (oblação significa oferta e o oblato é quem se oferece a Deus).
O que é esta Regra de São Bento?
É um livro que contém uma descrição detalhada dos deveres do monge e da natureza da vocação monástica. Serve para nortear seu proceder e é muito útil porque o monge que obedece uma Regra (e um superior) sempre nega a própria vontade, o que é fruto da humildade. Sendo humildes, seremos obedientes, e sendo obedientes, conforme diz o Prólogo da Regra, estaremos nos emendando de nossos pecados, que não são nada além de uma desobediência a Deus. Emendando-nos, obteremos o perdão e o amor de Deus.
Quem foi São Bento?
São Bento, considerado "o pai dos monges do Ocidente", foi um monge italiano que viveu no Século V. Eminente em santidade e tocado pela graça de Deus, aperfeiçoou a instituição monástica com sua Regra, sob a qual militaram milhares de homens e mulheres nesses 1500 anos. Graças a sua contribuição no campo religioso, moral e cultural, a Igreja não morreu com a queda do Império Romano, mas cresceu e tomou toda a Europa, dando origem à civilização ocidental.
O que é o Ofício Divino?
O Ofício Divino é o trabalho dado a Deus. Suas origens remontam ao Rei Davi, que compôs os salmos, orações que se tornaram correntes entre os judeus, que os recitavam em horários determinados do dia. Como o cristianismo nasceu entre judeus, essa tradição foi mantida e ao longo dos séculos foi aprimorada. É composto de uma sequência de salmos, hinos, pequenas antífonas e leituras, cada qual para um momento do dia, para santificá-lo e para vivermos os mistérios divinos em nossas vidas.
Por que não se encontra mais esse tipo de espiritualidade na Igreja?
Há cerca de um século nasceu, entre os monges, o desejo de reavivar a espiritualidade cristã, voltando-se para a Igreja Primitiva e as fontes de nossa fé, o que foi acompanhado de profundos estudos do Mistério Cristão. Este desejo foi uma das pautas do Concílio Vaticano Segundo, evento ocorrido há cerca de cinquenta anos que causou profundas mudanças na Igreja. Infelizmente, os teóricos desse movimento acabaram sendo mal interpretados, e o resultado foi uma igreja tão preocupada com o homem sem rédea que se esqueceu que o núcleo dessa espiritualidade era Deus, eram os mistérios. Assim, esse tipo de espiritualidade foi paulatinamente desaparecendo, tendo pouquíssimas pessoas engajadas com ele em nosso tempo.
Quem escreve o blog?
Entre os cartuxos (ordem religiosa criada por São Bruno na Baixa Idade Média) há o costume de, para mortificar o orgulho, os monges nunca colocarem seus nomes no que fazem, identificando-se apenas como "um cartuxo". O mesmo faço eu. Sou apenas "um oblato". Mas para os que insistirem, tudo o que posso dizer é que sou um jovem, brasileiro, que está se preparando para a oblatura beneditina e que quer ajudar tantas outras pessoas a encontrarem aquilo que o seduziu: o amor de Deus.