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Laudes e Vésperas: as Horas Maiores

  • Foto do escritor: Oblato Beneditino
    Oblato Beneditino
  • 22 de jul. de 2017
  • 5 min de leitura

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PAX



Dando continuidade à sequência de postagens sobre o Ofício Divino, vamos finalmente debruçar-nos sobre cada Hora Canônica em específico, começando hoje pelas duas mais importantes Horas: as Laudes, o louvor matutino; e as Vésperas, a oração vespertina.


No Breviário Romano (livro litúrgico no qual estão contidas as orações do Ofício Divino) ambas contam com cinco salmos, mas no Breviário Monástico (o breviário com as peculiaridades da liturgia dos monges) as Laudes têm seis salmos e as Vésperas têm quatro, conforme definiu São Bento em sua Regra. A estrutura destas Horas Canônicas nestes dois usos é semelhante: ambas possuem uma antífona (versículo breve) para ser rezada antes e depois de cada salmo; um capítulo (uma leitura brevíssima da Sagrada Escritura); um responsório (um versículo para ser repetido algumas vezes, com alternância entre dois coros); um hino (um poema litúrgico); um versículo (mais um verso dividido em duas partes); um cântico evangélico (Benedictus para as Laudes e Magnificat para as Vésperas) com sua respectiva antífona, que geralmente é mais longa do que as outras; a invocação Kyrie seguida do Pater noster; e não menos importante, uma oração (para evitar confusão cabe ressaltar que é do mesmo gênero daquelas que o sacerdote diz na Missa, quando invoca "oremos").


Tanto as Laudes quanto as Vésperas são reminiscentes dos sacrifícios que eram feitos na sinagoga. A saber, eram dois: um quando o Sol estivesse nascendo e outro quando ele estivesse se pondo. Assim, nestes mesmos momentos do dia são recitadas (ou cantadas) respectivamente as Laudes e Vésperas. O sacrifício no Antigo Testamento possuía um caráter expiatório: imolavam-se vítimas, sempre animais, em troca do perdão dos pecados do povo. O único a quem era permitido fazê-lo era o sacerdote. Ademais, vale ressaltar que esta é a função primeira de um sacerdote: obter o poder de oferecer sacrifícios a Deus pelo perdão dos pecados dos homens e ser um mediador entre estes e Deus. Bem sabemos que o sacrifício definitivo foi a morte de Jesus Cristo que, como sacerdote, ofereceu a Si mesmo, sendo também a vítima pelo perdão dos pecados dos homens. Cabe aos nossos sacerdotes hoje oferecer o sacrifício de Jesus Cristo todos os dias no altar. Mas e as Laudes e Vésperas, são sacrifícios? Não, não são, apenas lembram os antigos sacrifícios. Sacrifício é apenas a Santa Missa, mas ambas as orações mantêm o espírito sacrifical e sacerdotal pois pela manhã e pela tarde rendemos graças e louvores a Deus, pedindo também o perdão dos pecados. Logo, o caráter está mantido, mesmo sem haver sacrifício de fato.


Como o blog é escrito por um membro da família beneditina, ater-me-ei a explicar somente o ritual monástico.


Pois bem, as Laudes começam com o versículo "Deus, in adjutorium", e então reza-se, sem antífona, o salmo 66, que ao mesmo tempo em que pede a Deus luz para o dia e perdão para os pecados, convida todos os homens a louvarem-no, enquanto lhe agradece pela sua munificência e justiça. Terminado cada um dos salmos e cânticos se diz o "Gloria Patri", e neste caso não é diferente. Findado este salmo, que é o mesmo todos os dias, seguem-se quatro outros salmos e um cântico do Antigo Testamento, diferentes para cada dia da semana, todos com suas antífonas. Então dá-se sequência como dito acima. Já as Vésperas também começam com o mesmo versículo, mas não têm um salmo fixo, como o têm as Laudes. Passa-se direto para a antífona do primeiro salmo. São quatro salmos, sem cântico. E a sequência é a já exposta.


Ambos os cânticos evangélicos exprimem, através do louvor, uma confiança em Deus e gratidão pela obra da Salvação que Ele cumpriu em Jesus Cristo. O Benedictus possui também um quê de esperança, ao usar o tempo verbal no futuro: " sobre nós fará brilhar um Sol nascente". Já o Magnificat comunica espanto e maravilha pelo que Deus fez: "dispersou os orgulhosos e exaltou os humildes, despediu os ricos sem nada e saciou de bens os famintos". Também é de se levar em consideração que o Benedictus é colocado pela Igreja para ser rezado pela manhã porque cita o Sol nascente, e o Magnificat cai como uma luva para o início da noite porque, como vimos, o dia do judeu começa ao escurecer, e a obra da Salvação começou na Virgem Maria, autora deste cântico. Além da importância da recitação do cântico evangélico, não nos esqueçamos da salutar importância de se recitar o Pater noster em voz alta. Na Didaqué, o primeiro catecismo dos cristãos, se nos é informado que os cristãos primitivos rezavam esta oração de forma solene três vezes ao dia. Portanto a Igreja dispôs que em todos os ofícios ele seja recitado em silêncio, mas nas Laudes e Vésperas, assim como na Missa, ele seja dito em voz alta, reafirmando a solenidade destas invocações na vida da Igreja e mantendo o número de três orações solenes do Pater noster.


Mesmo ambos sendo legitimamente orações de louvor e de súplica expiatória, podemos colocar as Laudes como uma ação litúrgica mais propriamente laudatória, dado que seus salmos constantemente convocam o orante a louvar a Deus, porque se está diante de um novo dia que nasce, e deve-se agradecer a este mesmo Deus por isso. A esperança comunicada pelo Sol que se ergue no horizonte recorda a esperança de herdarmos o Reino dos Céus, e por isso o louvor não deve jamais cessar em nossos lábios. As Laudes têm seu lugar quando o Sol se ergue na abóbada celeste em direção ao seu zênite, assim como Cristo ressurgiu dos Infernos para adentrar o Paraíso, horário no qual, na manhã de Páscoa, Ele definitivamente venceu a morte. A dupla coincidência do sacrifício matinal judaico com a ressurreição de Cristo explica o tom alegre e triunfal deste ofício, assim como as frequentes alusões à luz que nasce. Já as Vésperas possuem uma dimensão voltada para a súplica, pois se está diante do mais perfeito símbolo da morte, que é a noite. E à medida que a morte se aproxima, o homem, afogado em pecados, passa a implorar a Deus o perdão por estes, para ser digno de adentrar a Morada Eterna dos justos. Mas também, como Deus começou a Criação na tarde do primeiro dia da semana, os hinos deste ofício invocam, a cada dia, a obra da Criação. Também encontra-se ao longo da estrutura uma constante súplica para que, durante a noite, Deus mantenha Sua presença em nós.


Todos somos convidados a tomar parte em ambas as orações, recitando-as em privado ou acompanhando o canto em alguma casa religiosa, assim como somos convidados pela Igreja à Missa diária. Assim estaremos sempre no mesmo ritmo litúrgico da Igreja, vivendo o mistério de cada dia com perfeição.


UIOGD

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Criado em 11/07/2017. Direitos de reprodução reservados.

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