Horas menores: Prima e Completas
- Oblato Beneditino
- 5 de ago. de 2017
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PAX
"Nosso Senhor insistiu tanto sobre a oportunidade e necessidade de orar, que nenhum cristão se pode furtar à regra de rezar amiúde. Ora, não existe momento mais propício do que o princípio e o fim do dia para agradecer a Deus, implorar a Sua graça e pedir perdão pelas faltas cometidas. O Pai-Nosso, a Ave-Maria e o Credo Apostólico podem, a rigor, satisfazer a prática desse conselho. Muitos se contentam em se recomendar à nossa boa Mãe do Céu, Nossa Senhora, rezando três Ave-Marias, e merece esta prática todos os louvores" (KECKIESEN, D. Beda; 1957). Contudo a mais perfeita maneira de se dirigir a Deus nestes momentos do dia é sempre pelas ações litúrgicas, em perfeita comunhão com toda a Igreja. É com as palavras previamente citadas que D. Beda apresenta os ofícios de Prima e Completas em seu missal, recomendando-as a quem deseja uma mais forte união ao mistério litúrgico.

Eu separei as Horas Menores em dois artigos: um sobre estas duas veneráveis orações, outro sobre Terça, Sexta e Noa, que postarei em breve. Os ofícios dos quais trata este artigo possuem uma estrutura e um espírito completamente diferente dos outros três, e por isso eu os dividi.
O ofício de Prima é de origem monástica. É uma oração da manhã, que oferece e recomenda a Deus a jornada de trabalho que começa. Ele é composto de duas partes: a primeira se celebra no coro, no caso de comunidades religiosas. Parece-se às outras Horas Menores. A segunda parte é composta da leitura do Martirológio do dia seguinte (explico adiante), de uma breve invocação dos santos, da preparação da jornada de trabalho pela oração, depois (nos mosteiros) de uma passagem da Santa Regra, uma bênção, e se conclui uma oração pelos defuntos. Nas comunidades não monásticas, é costume fazer-se meia hora de meditação silenciosa assim que se a termina. Nos mosteiros ela já é feita no intervalo entre as Matinas e Laudes ou entre as Laudes e a Missa conventual.
As orações da Prima são muito específicas. Seu espírito ronda em torno de insistentes súplicas pela proteção de Deus e pela companhia daqueles que morreram na Sua amizade, os santos. Assim preparar-nos-emos para um dia sem pecado, no qual brilharemos ostentando Deus que habita em nós.
Vale explicar o que é o Martirológio Romano. Não é nada mais do que um livro que contém, catalogados, todos os santos comemorados pela Igreja universal. Para cada dia há uma lista com os nomes dos santos que morreram ou que fizeram algo memorável naquele dia. A leitura feita na Prima é sempre a do dia seguinte, não a do dia corrente. A origem do Martirológio remonta à necessidade da Igreja Primitiva de recordar-se daqueles que adormeceram em Deus. Como nos primeiros séculos quase todos foram martirizados, o livro tomou este nome. A invocação de cada santo (chamada "elogio") não pode, nunca, ultrapassar quarenta palavras, mas geralmente é mais breve. O elogio do santo conta com uma estrutura. A leitura começa com o dia do ano, então os elogios de cada santo, que começam com o lugar onde este morreu (ou onde foi sepultado), seguindo-se do nome do santo e por fim o ano no qual aconteceu, podendo ser o ano ordinário (2017, por exemplo, caso o santo tenha morrido neste ano) ou o ano do governo de Roma ("no terceiro ano do império de Otaviano Augusto", por exemplo). Em algumas línguas cita-se, junto com a data, também a lua.
Agora falando das Completas, se o espírito da Prima gira em torno do início da jornada do dia, as as Completas se debruçam sobre o seu fim. A origem deste ofício remonta à época que se seguiu imediatamente às perseguições. Sua estrutura está pautada em três momentos: o primeiro conta com uma admoestação sobre os ardis do demônio, passa a um brevíssimo exame de consciência que pode ser substituído pela oração silenciosa do Pater, e então a confissão dos pecados com a fórmula do Confiteor. O segundo momento é semelhante às outras Horas Menores, com três salmos, capítulo, hino, e Pater, concluindo com uma bênção. O terceiro momento é composto de uma oração à Virgem. Ela é a porta do Céu. Por ela o Cristo veio ao mundo, e é a esta porta que devemos nos voltar, considerando a noite como um forte símbolo da morte. É por esta porta que adentraremos o Paraíso. Por costume monástico, ainda antes de os irmãos se dirigirem às suas celas (nome dado aos seus quartos) lhes é aspergida água benta, com ou sem canto. A forma de deixar o espaço sagrado também pode contar com uma profunda reverência de todos os monges a uma imagem que represente a Virgem.
Os hinos de ambas as Horas Canônicas imploram a Deus que nos livre da tentação e da imundície do pecado. As orações pedem a proteção de Deus sobre o período que se seguirá, seja trabalho ou repouso. Como estes hinos e orações são sempre os mesmos, reproduzo-os em vernáculo:
Jam lucis (Prima):
Já desponta o astro do dia,
Imploremos a Deus de joelhos
Que nos atos deste dia
Nos preserve de todo o mal
Ponha um freio à nossa língua
Para nos guardar do horror da discórdia.
Cubra nossos olhos com um véu
Para que não se deleitem nas vaidades.
Guarde-nos puro o íntimo do coração
E afaste de nós as seduções do mundo.
E o orgulho da nossa carne
Seja dominado pela abstinência e sobriedade.
Assim, no ocaso do dia,
Quando o curso do tempo trouxer a noite,
Conservados puros pela vida mortificada,
Cantemos de novo um hino à Sua glória.
Glória a Deus Pai
E ao Seu Filho único,
Com o Espírito Paráclito
Agora e para sempre.
Amém.
Oremos. Senhor Deus onipotente, que nos fizestes chegar ao começo deste dia, salvai-nos hoje por Vosso poder, a fim de que no curso deste mesmo dia, não nos deixeis cair em nenhum pecado, mas que nossos pensamentos, palavras e obras se dirijam sempre ao cumprimento da Vossa Justiça, por N. S. J. C., Vosso Filho, que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.
Santa Maria e todos os santos intercedam por nós ao Senhor, a fim de que mereçamos ser ajudados e salvos por Ele, que vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.
Oremos. Dignai-vos, Senhor Deus, Rei do Céu e da Terra, dirigir, santificar, reger e governar, neste dia, nossos corações e corpos, nossos sentidos, palavras e obras, para que na Terra e na Eternidade, mereçamos, segundo Vossa Lei, pelo cumprimento de Vossos preceitos e por Vosso auxílio, obter salvação e liberdade, ó Salvador do mundo, vós, que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.
O Senhor nos abençoe, nos livre de todo o mal e nos conduza à Vida Eterna. Amém.
Te lucis (Completas):
Antes que a luz se esvaia
Nós Vos imploramos, Criador das coisas,
Que, pela Vossa clemência,
Sejais nosso Protetor e Guarda.
Longe de nós os sonhos maus
E os fantasmas da noite.
O nosso inimigo derrotai
Para que não manche o nosso corpo.
Concedei-nos, Pai piedosíssimo,
Por Jesus Cristo, nosso Senhor,
Que convosco, para sempre,
Reina com o Santo Espírito.
Amém.
Oremos. Visitai, Senhor esta casa, e afastai para longe dela as ciladas do inimigo. Nela habitem Vossos santos anjos para nos guardar na paz, e a Vossa bênção esteja sempre conosco, por N. S. J. C., Vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, que é Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.
Oremos. Ó Deus onipotente e sempiterno, que, pelo Espírito Santo, preparastes o corpo e a alma da gloriosa Virgem e Mãe, Maria, para que merecesse ser habitáculo do Vosso Filho, dai-nos que, alegrando-nos com aquela que comemoramos, por sua piedosa intercessão, sejamos livres dos males presentes e da morte perpétua. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
Que nos abençoe e guarde o Senhor onipotente e misericordioso: Pai, Filho, e Espírito Santo. Amém.
Esperando que a transcrição destas orações tenha sido útil, peço que elevemos nossos corações a Deus, e que a Ele se volte nosso primeiro e último pensamento de cada dia.
UIOGD
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